Estaremos prisioneiros dos algoritmos ou das notícias falsas?
Velhas crenças servem a desinformação
A Web é um mundo sem fim.
De férias, a fazer o que fazemos todos os dias, deparámo-nos com uma entrevista a Roger Chartier, um dos mais conceituados historiadores franceses, especialista na história do livro.
Apaixonados por este tema, a leitura do artigo depressa suscitou uma animada discussão no grupo de amigos. Acabámos a questionar algumas das afirmações que faz.
Afirma Roger Chartier:
1. A pandemia exacerbou novas práticas de leitura impostas por algoritmos que aceitamos sem questionar.
Independentemente do digital ou não, hoje, como ontem, a boa prática é, foi sempre, o questionar. Por causa de uma pandemia ou não, o algoritmo está aí e vai-nos acompanhar ao longo da vida. Temos que o saber para compreendermos os critérios de publicação e para nos sabermos defender. A escola tem aqui um papel importante a desempenhar.
Sem dramas. O mundo, a tecnologia, o homem, a vida mudam. O homem adapta-se e aprende.
Que pensa o caro leitor?
2. As redes sociais dão uma força inédita aos riscos que ameaçam a verdade e a democracia.
É verdade. As redes sociais põem em pé de igualdade (relativamente) o especialista e o homem comum. Mas não é também verdade que assistimos ao fim das elites e que a própria ciência muda a uma velocidade nunca vista? Atente-se no caso do uso ou não da máscara durante a pandemia e na multiplicidade de afirmações dos especialistas.
Não estarão aqueles com mais acesso aos órgãos de informação, mais ao serviço da política do que da ciência?
O que é preciso, caro leitor, é que pensemos, ouçamos os outros, com civilidade e sejamos cidadãos críticos para sermos esclarecidos.
As redes sociais podem dar, e se calhar dão, uma força inédita ao erro, ao engano, à ignorância, contudo, quando bem usadas, educam, formam como suporte nenhum criado pelo homem, até hoje, foi capaz de fazer.
3. É necessário redefinir a noção de cultura, sobretudo se tivermos em conta que as práticas cultuais dominantes dos jovens, entre os 15 e os 24 anos, passam pelo consumo diário de vídeos online.
O autor vai mais longe e pede um esforço coletivo, político e social, para salvaguardar o mundo que não queremos perder.
Como se fosse possível suster a mudança, amigo leitor. Em tempo algum da história da humanidade isto se revelou possível, atrevemo-nos até a dizer, desejável.
4. Na lógica da cultura impressa, o leitor encontra o que não procura. Na lógica da cultura digital, manda o algoritmo, a leitura é acelerada, impaciente e fragmentada.
Será este o tópico de discussão mais adequado, amável leitor? Que lhe parece?
O que mudou foram os hábitos de leitura e os canais onde se lê. Lemos cada vez mais e de forma mais seletiva. Um romance em suporte papel ou digital lê-se da mesma forma, com a mesma intensidade. Um artigo científico lê-se da mesma maneira, ainda que o suporte digital permita fazer pesquisas e acrescentar significados de forma mais fácil e rápida.
PS. A capacidade de analisar, de ler de forma refletida o mundo é cada vez mais premente, devendo ser uma das grandes metas dos sistemas educativos, para que os jovens questionem o que leem, mesmo quando dito por personalidades de renome.
Concorda, caro leitor?